Meigo como um PC.....

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O que as mulheres querem do computador....

Brinco com a ideia de uma história que abre com uma mulher dizendo:
"Tudo o que eu queria é um homem que tivesse a gentileza de um computador". Por quê?
O computador é o último refúgio universal da polidez.
Tudo ele pede por favor. Sugere, confirma, procura ajudar.
Ele "sabe" que a natureza humana é falha, que o erro ronda cada gesto nosso, que nos atormentaríamos depois, clamando uma frase que cobra a indiferença de todos:
" Por que ninguém me avisou?"
Ele avisa, pergunta a cada passo se a pessoa tem certeza.
Não quer pegá-la numa falha para depois vir com acusações.
Sabe que um engano vai chateá-la e complicar sua vida.
Imagino essa personagem clicando para seu homo-software que pretende transar com um amigo e ele - delicado, solícito - pergunta:
"Tem certeza que pretende instalar tal aplicativo na pasta Amores?
Se fizer isso, todos os seus arquivos no meu disco rígido serão apagados".
E depois ele ainda apresenta as opções: "avançar", "cancelar".

Seu computador ainda não fala, mas quando falar certamente não usará tons de voz, aqueles que exprimem menosprezo ou grosseria além das palavras.
O criador humano pensa em máquinas gentis. O robô doméstico imaginado pela tecnologia é suave, uma flor de pessoa.
O que eu quero dizer é que os homens deveriam a delicadeza como traço pessoal, nem que fosse por estratégia. É uma demanda delas, mulheres.
Depois, gostando dos resultados, talvez eles mantenham essa qualidade, antiga e moderna ao mesmo tempo.
Algumas mulheres queixam-se de que os caras estão disputando até a passagem por uma porta. Esse gesto reproduz, de certa forma, a batalha de competências que surgiu na área profissional.
O truque delicado-moderno é saber separar as coisas.
Deixar qualquer disputa entre os sexos apenas nos resultados, lá para dentro; na porta, gentileza.
Ceder a passagem não só à mulher que está ao lado, mas também ao homem mais próximo. Para mostrar a ela que você é fundamentalmente delicado, não machistamente delicado.
No restaurante, perguntar primeiro o que ela quer, escolher um vinho cujo sabor possa agradá-la, mesmo que não seja o seu preferido.
Numa festa, se o casal tiver de se separar, que ele se mantenha atento, em discretíssima atitude protectora. Não fazer como um amigo meu, que chegou a esquecer a mulher numa reunião: foi para casa, adormeceu no sofá diante da televisão, ela voltou de carona. Distração, ele diz. Na verdade, grosseria.
Então, numa festa, é gentil manter o olhar, um sorriso a distância, quem sabe um beijinho voando entre copos e pessoas.
Usar a doçura como sedução.
Ao ouvir uma mulher, olhar sua boca com atenção, como se não quisesse perder as palavras, atento ao seu jeito particular de dizê-las. Pode passar pela cabeça dela que você pensa em beijá-la, mas isso é mau?
No shopping, carregar os pacotes. Na cama, como na porta, ela primeiro.
Disse que a delicadeza é antiga e moderna.
Explico, ou tento.
O homem da primeira metade do século 20 cultivava o que se chamava de boas maneiras, mas era fundamentalmente autoritário, machista, preconceituoso.
Havia então uma série de qualidades consideradas "masculinas": arrojo, auto-controle, independência, força de vontade, racionalidade, firmeza, liderança.
E havia as "femininas": delicadeza, emotividade, flexibilidade, habilidade, adaptabilidade.
Os homens viveram muito bem com esse arranjo enquanto a
organização da sociedade se baseava em valores "masculinos".
Mesmo depois da contraculturas dos anos 70, dos yuppies dos anos 80 e da indefinição dos 90.
Mas agora o mercado de trabalho substituiu algumas qualidades por outras, puxadas justamente entre aquelas chamadas "femininas".
Pelo novo modelo, as pessoas da área de decisão devem ser mais flexíveis, adaptáveis, hábeis, delicadas.
O grosso tornou-se obsoleto.
Em consequência, o aparato "masculino" para o sucesso entrou em crise.
A formação vai-se adaptando.
Nas famílias mais esclarecidas ou naquelas que cultuam o êxito, os machinhos são vistos até pelo pai com um confuso sentimento de orgulho antigo e preocupação moderna.
Já não é proibido chorar. Meninos emotivos são os queridinhos das professoras.
Nada mais moderno, pois, do que um perfil masculino que amolde algo do gestual dos cavalheiros, da gentileza dos computadores e da delicadeza dos recém-namorados.
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27/06/2007
Ivan Ângelo

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